G J Consultoria Empresarial e Treinamento EIRELI. Informativo Empresarial – Ano VI – N. 01 – Janeiro/2012

Bullying nas Escolas - APELIDOS PEJORATIVOS

(*)DAVID SERGIO HORNBLAS

“O APELIDO PEJORATIVO CARACTERIZA ALGUÉM, DESCARACTERIZANDO-O”

Recentemente, finalizei uma pesquisa sobre o uso de apelidos pejorativos em uma escola pública da cidade de São Paulo, com financiamento do CNPq e PUC/SP.

Os dados obtidos são alarmantes: 63% dos jovens pesquisados têm algum tipo de apelido, pejorativo ou não.
Este pesquisa mostrou que muito além do que o senso comum aponta ou certa obviedade intrínseca, jovens não gostam de apelidos, relatam sentimentos ruins (“...me sinto humilhado...”), comprometem a autoestima (“...me sinto um imprestável...”), agem de forma destemperada (“...quebrando os dentes...”). e produzem mal estar psicológico (“...me sinto envergonhado...”.). Isso significa que o tema não deve ser banalizado como se faz habitualmente. Os apelidos pejorativos são percentualmente os eventos de bullying mais frequentes entre jovens e correspondem a 52% do universo total dessas ações intimidatórias. O apelido é o começo do bullying. E deste ponto de partida, as consequências são incalculáveis.

Etimologicamente falando, apelido vem do latin, appelitare, colocar pêlo sobre algo. Apelido significa por sinonímia, alcunha – denominação ou qualificativo. Reconhecido popularmente como brincadeira de criança, o apelido circula em todos os ambientes onde existem relações humanas, na família, na escola, na rua, nos ambientes de trabalho, nos clubes, nos grupos de amigos e em muitos outros meios. Surge com ou sem consentimento da pessoa. Quando “pega”, ou seja, solidifica-se, passa a fazer parte do indivíduo como um rótulo colocado de fora para dentro.

O apelido muitas vezes é uma transposição de significados e possuem a capacidade de dizer coisas diferentes daquelas que convencionalmente quem dizer. Destaca-se duas figuras usadas comumente, ao se referir à uma pessoa pelo apelido e não pelo seu próprio nome: metáfora e metonímia. Estes recursos linguísticos são utilizados na construção dos apelidos com a intenção de provocar odeboche e/ ou riso. Ocorre um jogo de palavras onde o apelidado ou aqueles que estão na platéia compreendem o apelido em seu sentido amplo ou geral e aquele que dá o apelido quer focar características específicas do outro; com isto, provoca uma contradição e aí surge o riso.

Visto de forma natural pelas pessoas do grupo, o apelido é aceito e repetido, sem reflexão sobre as conseqüências na pessoa apelidada, como se o apelido fosse o nome próprio da pessoa.

Entre o consentimento e o não consentimento em receber o apelido existe uma linha tênue que torna esta forma de tratamento repleta de indefinições nos sentimentos de quem recebe o apelido. No caso de apelidos não pejorativos, alunos manifestaram claramente gostar do apelido que receberam, tendo em vista que sua estrutura semântica é composta por ingredientes afetuosos e boa aceitação social; Outros que não gostam, podem aceitar o apelido, pois sentem-se constrangido em dizer que não gostam; Por fim, podem ainda não gostar explicitamente, deixando claro aos apelidadores que insistem ainda que contra a vontade do apelidado, até que o apelido acaba pegando.

A arquitetura utilizada na construção dos apelidos é muito inventiva e contempla uma precisão cirúrgica, nos aspectos concernentes aos seus objetivos de ferir alguém. O apelidador percebe características físicas, etnias, modo de falar, de agir e constrói um nome ou adjetivo cruel, com três funções básicas, segundo estudos e constatações clínicas pessoais:

1ª) Fazer-se perceber pelos outros, 2ª) Fortalecer-se diante de seu grupo social, onde o fenômeno acontece preferencialmente na escola, mas não somente nela: também pode ser observado em condomínios, clubes, áreas de lazer públicas, etc. Isso torna o apelidador popular e bem aceito pelos demais. Há também componentes erotizados próprios da adolescência para este tipo de ação. 3ª) Ferir deliberadamente, pelo simples prazer de colocar alguém sob tensão.

Essas ações são perversas, e a intervenção da escola deve ser contundente em um esforço conjunto envolvendo equipe multidisciplinar. O bully dentro da escola, deixa de ser uma problema exclusivamente pedagógico e assume outra faceta: a psicopatológica. Punições previstas no regimento interno não são suficientes para contenção de comportamentos violentos. Nesses termos a escola deverá, agir através de sua equipe, mobilizar familiares ou responsáveis para providências.

O apelido pejorativo fere, magoa e humilha. Assim sendo, atinge os objetivos do bully, especialmente quando revidado pela vítima. Na linguagem do dia a dia, apelido que pega é aquele o qual a vítima reclama. O apelido é desagradável quando afeta o indivíduo, desencadeando experiências ruins. Esses apelidos são freqüentes em diversos ambientes e surgem pelos mais variados motivos.

Quando um jovem recebe um apelido do qual não gosta, produz-se um paradoxo: a despersonalização do que se é, para personalização do que não se é, onde o Joãozinho passa a ser a “orca ou favelado” e a Mariazinha a “louca ou a preta”. Desta forma, a constituição da pessoa em quanto ser-no-mundo é minada por ingredientes que denigrem a imagem constituída, produzindo sofrimento.

Sensações de mal-estar ocorrem quando o apelido vem carregado de sentido pejorativo, torpe, depreciativo com a intenção de desprezar, desvalorizar, menosprezar, desdenhar, zombar, ridicularizar, rebaixar o apelidado. Se acatado pelo grupo, seus efeitos se agigantam exponencialmente. Em alguns países, o fenômeno é tão agudo que tem como consequência, inúmeros eventos de suicídio. Só nos EUA foram 38 em 2007.

Não raro, professores, funcionários e até diretores, referem-se à vítima pelo apelido. E entendem ser apenas uma brincadeira e que o sofrimento o qual nos referimos neste texto é excessivo. Alguns professores não atribuem o uso de apelidos como um aspecto relevante relacionado ao bullying, sendo que eles os próprios afirmaram que muitas vezes direcionam-se aos alunos dessa forma e também aceitam apelidos que os alunos lhes colocam. Alguns pais também concordam com esta postura, alegando que jovens, como num ritual de passagem, colocam mesmo apelidos nos outros.

Não são poucos os professores que, ao se referirem a alguns de seus alunos, chamam-nos por apelidos (que, às vezes, eles mesmos colocam), como Cascão, Tampinha, Fantasminha, Lunático, Esquisito, Burraldo, fomentando assim, a vitimização desses alunos.

Há de se conter essa faceta do bullying com programas de prevenção, sensibilização e capacitação de professores, pais, alunos, equipe pedagógica e funcionários.

De certo que o apelido fere. E faz muito mal.

(*)David Sergio Hornblas - mestre em Psicologia da Educação, professor de Psicologia do Desenvolvimento, psicólogo escolar e orientador pedagógico.

FONTE: David Sergio Hornblas

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